Delegado
diz que ação não criminaliza o MST, apenas investiga alguns integrantes
- 04/11/2016 20h35
- São Paulo
Elaine
Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
O
delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Júlio Cezar dos Reis, disse que a Operação Castra, desencadeada hoje (4), não teve
como alvo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), apenas alguns
integrantes do movimento.
“A operação da Polícia Civil não tem como alvo o
MST, mas sim alguns integrantes do movimento suspeitos de cometer crimes. Não
se discute aqui a legitimidade do MST, nem a questão fundiária. A investigação
da Polícia Civil, conduzida de forma objetiva e eficiente, primando pelas
técnicas policiais, revela que, através do MST, algumas pessoas cometeram
crimes e, assim como todos, elas têm de ser responsabilizadas criminalmente”,
disse Reis em entrevista coletiva em Cascavel (PR).
Oito pessoas foram presas na operação, que recebeu
o nome de Castra, palavra que, em latim, significa acampamento. Sete ainda
estão foragidas. A operação foi desencadeada nos estados do Paraná, São Paulo e
Mato Grosso do Sul. Os detidos, segundo a Polícia Civil do Paraná, integram o
MST e são investigados por diversos crimes como organização criminosa suspeita
de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso,
cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e
permitido e constrangimento ilegal. A investigação foi conduzida pelos
delegados Adriano Chohfi, titular da 15ª Subdivisão de Cascavel, e Anna Karyne
Turbay Palodetto.
Durante a operação foram apreendidos um fuzil, uma
pistola calibre 9mm, um colete balístico, dois rádios comunicadores e mais de
50 munições, além de celulares e equipamentos de uma rádio clandestina que
funcionava na cidade de Quedas do Iguaçu.
“Não é o movimento dos sem-terra que está sendo
investigado, e sendo objeto de ação policial. Não é a atividade de reforma
agrária que está sendo reprimida através de uma investigação. É um grupo de
indivíduos que fazem parte de um movimento, neste caso, o movimento sem-terra,
e que foi investigado de maneira legítima através de decisões judiciais e
acompanhamento do Ministério Público e que concretizou crimes graves. Foi uma
investigação muito difícil”, disse o secretário da Segurança Pública do Paraná,
Wagner Mesquita.
Saiba Mais
Para o MST, no entanto, a operação de hoje foi
resultado de uma “escalada da repressão contra a luta pela terra, onde
predominam os interesses do agronegócio associado a violência do estado de exceção”.
“Lembramos que sempre atuamos de forma organizada e
pacifica para que a reforma agrária avance. Reivindicamos que a terra cumpra a
sua função social e que seja destinada para o assentamento das 10 mil famílias
acampadas no Paraná”, disse o movimento em nota divulgada após as prisões.
Tiros em Guararema
Um dos alvos da operação era uma pessoa que a
Polícia Civil do Paraná desconfiava estar em São Paulo, na cidade de Guararema.
De acordo com a assessoria do MST, por volta das 9h25, dez viaturas das polícias
Civil e Militar entraram na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema,
para tentar cumprir esse mandado de prisão. Durante a ação, de acordo com o
movimento, dois militantes foram detidos por desacato e uma ficou ferida com
estilhaços de bala.
Um vídeo da ação divulgado pelo MST mostra
policiais entrando no local, pulando uma porta e, mais tarde, dois militantes
sendo detidos. O vídeo também mostra um policial ameaçando as pessoas que
estavam na escola no momento da operação. “Eu acho que alguém vai sair morto
daqui. Pode ser nós, pode ser vocês”, diz o agente.
Em nota, o movimento diz que a polícia entrou no
local sem apresentar mandado judicial. “O MST repudia a ação da polícia de São
Paulo e exige que o governo e as instituições competentes tomem as medidas
cabíveis nesse processo. Somos um movimento que luta pela democratização do
acesso à terra no país e a ação descabida da polícia fere direitos
constitucionais e democráticos”, diz o comunicado.
Já a Polícia Civil de Mogi das Cruzes, também por
meio de nota, disse ter recebido solicitação de ajuda da Polícia Civil do
Paraná para cumprir o mandado em Guararema. “Ao chegarem ao local, policiais do
GARRA foram recebidos com violência. Cerca de duzentas pessoas que estavam
presentes tentaram desarmar os agentes e quatro deles ficaram feridas”, diz a
nota da corporação, que também confirmou as duas prisões. “Durante a ação, duas
pessoas foram encaminhadas à Delegacia de Guararema para registro de Termo
Circunstanciado de desobediência, resistência e desacato.”
A Polícia Civil do Paraná acrescentou que os
“policiais ficaram encurralados num espaço do local e, sem que pudessem exercer
outra maneira de se defenderem, tiveram que efetuar dois disparos de
advertência ao alto” para não serem agredidos. A corporação diz que quatro
policiais foram agredidos, mas já foram medicados em um hospital e liberados.
Edição: Luana
Lourenço
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