Como execução de clérigo xiita pode aumentar
antigas tensões no Oriente Médio
Morte de Nirm al-Nimr pela Arábia Saudita pode dar
fôlego a diferenças entre sunitas e xiitas; líder supremo do Irã alertou para
'revanche divina'.
Da BBC
A execução de um proeminente clérigo xiita pela Arábia Saudita realimentou a antiga
rivalidade entre sauditas e iranianos, e pode dar fôlego a tensões entre
sunitas e xiitas no Oriente Médio.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei,
alertou que a Arábia Saudita enfrentará uma "revanche divina" pela
execução de Nimr al-Nimr, e descreveu-o como um "mártir" que agia
pacificamente. Al-Nimr era conhecido por verbalizar o sentimento da minoria
xiita na Arábia Saudita, que se sente marginalizada e discriminalizada, e foi
crítico persistente da família real saudita.
"Este estudioso reprimido nunca convocou
ninguém para movimentos armados ou esteve envolvido em tramas secretas",
disse o aiatolá em mensagem no Twitter. "O único ato do xeique Nimr era a
crítica aberta". O clérigo e outras
46 pessoas foram executadas no sábado, após serem condenadas por crimes de
terrorismo na Arábia Saudita. Mas o aiatolá Khamenei disse que a morte do
xeique foi devido à oposição que ele fazia aos governantes sunitas sauditas.
A execução de Al-Nimr gerou fortes reações
oficiais, lideradas pelo Irã, e manifestações foram registradas na Arábia
Saudita, no Iraque, no Barein - onde a maioria xiita reclama de marginalização
promovida pelos governantes sunitas - e em outros países. A chancelaria
iraniana disse que o reino saudita pagará um alto preço pela ação, e convocou o
encarregado de negócios saudita em Teerã como protesto.
Já a Arábia Saudita reclamou ao enviado iraniano no
país sobre o que chamou de "interferência flagrante" em seus assuntos
internos.
Sunitas x Xiitas
A execução expõe as delicadas relações entre
sunitas e xiitas. A sunita Arábia Saudita é rival tradicional do Irã por
influência na região. Já o Irã é o poder xiita no Oriente Médio, e observa com
grande interesse a questão de minorias xiitas em outros países.
A divisão tem origem numa disputa logo após a morte
do profeta Maomé sobre quem deveria liderar a comunidade muçulmana.
Sauditas
xiitas participam de protesto na cidade de Qatif, no leste do país, contra execução
de Al-Nimr (Foto: STR/AFP )
A grande maioria dos muçulmanos é sunita -
estima-se que entre 85% e 90%. Eles se consideram como a versão ortodoxa e
tradicionalista do Islã.
A palavra sunita é derivada de "Ahl
al-Sunna", as pessoas da tradição. A tradição, neste caso, se refere a
práticas baseadas em precedentes ou relatos de ações do profeta Maomé e de
pessoas próximas a ele. Sunitas veneram todos os profetas do Corão mas, particularmente,
Maomé, como o profeta final. Todos os líderes muçulmanos que vieram depois são
vistos como líderes temporais.
Já xiitas, na história islâmica, eram uma facção
política - literalmente "Shiat Ali", ou o partido de Ali. Xiitas
acreditam no direito de Ali, genro de Maomé, e seus descendentes de liderar a
comunidade islâmica.
Ali foi morto como resultado de intrigas, violência
e guerras civis que marcaram seu califado. Seus filhos, Hassan e Hussein,
tiveram negados o que acreditavam ser o direito legítimo de acessão ao
califado. Ambos teriam sido mortos, o que deu aos xiitas o conceito de mártir e
os rituais de autoflagelação.
Estima-se que haja entre 120 e 170 milhões de
xiitas. Eles são maioria no Irã, Iraque, Barein, Azerbaijão e, segundo algumas
estimativas, no Iêmen. Há grandes comunidades xiitas no Afeganistão, Índia,
Kuweit, Líbano, Paquistão, Catar, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Emirados
Árabes Unidos.
Tensões sectárias
Conflitos recentes como no Líbano, na Síria, no
Iraque e no Paquistão, enfatizaram a divisão sectária, dividindo comunidades. Em
países governados por sunitas, xiitas tendem a integrar os setores mais pobres
da sociedade. Eles reclamam de serem vítimas de discriminalização e opressão, e
algumas doutrinas extremistas sunitas defendem o ódio contra xiitas. A
revolução iraniana de 1979 lançou uma agenda xiita radical que foi vista como
um desafio por regimes conservadores sunitas, especialmente no Golfo Pérsico.
A política de Teerã de apoiar milícias xiitas e
grupos além de suas fronteiras foi replicada pelos países do Golfo, que
fortaleceram suas relações com governos e movimentos sunitas no exterior. Durante
a guerra civil no Líbano, xiitas ganharam uma forte voz política devido às atividades
militares do grupo Hezbollah.
No Paquistão e no Afeganistão, grupos militantes
extremistas sunitas, como o Talebã, têm atacado com frequência locais sagrados
xiitas. Os atuais conflitos no Iraque e na Síria também ganharam traços
sectários. Homens jovens sunitas em ambos os países têm se juntado a grupos
rebeldes, muitos dos quais replicam a ideologia extremista da Al-Qaeda.
Enquanto isso, jovens xiitas têm lutado para ou ao
lado de forças do governo.
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