Especialistas
debatem potencial de canabinoides na saúde do idoso
Pesquisadores defendem a abordagem científica do
assunto
Publicado
em 01/11/2019 - 17:38
Por Vinícius
Lisboa - repórter da Agência Brasil Brasília
O uso de canabinoides na
população idosa para fins medicinais foi tema de um debate na manhã
de hoje (1°) promovido no Rio de Janeiro pela Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Os canabinoides são substâncias
derivadas da cannabis, considerada ilícita em boa parte do mundo e no Brasil.
Com possíveis benefícios em tratamentos contra dor crônica, demência e outros
problemas comuns em idosos, o uso terapêutico tem sua discussão atravessada por
expectativas e preconceitos, avaliam os pesquisadores, que defendem uma
abordagem científica do assunto.
Médico do Centro de Demência de
Alzheimer do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IPUB-UFRJ), Ivan Abdalla apresentou estudos internacionais sobre
canabinoides e demência que apontam a necessidade de aprofundar o tema antes de
prescrever ou afastar de vez essa hipótese.
"A gente tem evidências de
que talvez tenha um efeito, mas a gente precisa caminhar alguns passos para
poder chegar lá", disse.
O pesquisador apresentou um
mapeamento feito pela Agência Canadense de Drogas e Tecnologias em Saúde
(CADTH) que levantou 12 estudos realizados entre 1997 e 2017 em seis países:
Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Holanda e Israel. Apesar
de ter considerado as pesquisas de baixa qualidade e com alto risco
de viés, a agência ainda assim concluiu que elas indicam que os canabinoides
podem ser eficazes contra alguns sintomas da demência.
"Têm evidências para algumas
situações clínicas, mas para demência a gente ainda não tem essa resposta.
Existe um potencial, mas ainda estamos em um momento experimental", afirma
o pesquisador. "É preciso estimular a pesquisa e o debate, e derrubar barreiras
pra isso, mais do que para o uso."
No Brasil, a Resolução de
2.113/2014 do Conselho Federal de Medicina restringe o uso do canabidiol para o
tratamento de crianças e de adolescentes com epilepsia que tenham sido
refratários às terapias convencionais. Somente neurologistas, neurocirurgiões e
psiquiatras podem fazer essas prescrições. A recomendação da cannabis in
natura ou de qualquer outro derivado diferente do canabidiol é proibida
pela resolução.
O debate foi mediado por uma das
fundadoras da Comissão de Cuidados Paliativos da SBGG, Claudia Burlá, que
afirma não ter dúvidas de que os canabinoides podem ter um
grande potencial terapêutico para os idosos.
"A gente tem que estudar,
não pode ficar em um reducionismo e em um moralismo", diz ela, que vê esse
potencial para descobertas no tratamento de dor crônica, quadros de epilepsia e
náusea decorrente de quimioterapia. Ela adverte que é preciso cautela no
debate, para não criar na sociedade uma expectativa alta demais em relação às
possibilidades terapêuticas dos canabinoides. "Nada de panaceia",
enfatizou ao iniciar a discussão, que lotou uma das salas do congresso.
O presidente da SBGG, Carlos
André Uehara, lembra que qualquer prescrição médica para idosos ainda depende
de mais estudos, mas que o papel de uma sociedade científica é apoiar o debate.
"Não impede que a gente tenha a discussão."
Sobre o congresso
O debate sobre os canabinoides
ocorre em uma programação que trouxe temas contemporâneos para o congresso de
geriatria e gerontologia, como o combate aos preconceitos, a Previdência
Social, o envelhecimento LGBT e o uso de tecnologia para assistir idosos à
distância.
"Temos que discutir a questão de gênero, o velho não é um ser assexuado, e tem a questão de doenças sexualmente transmissíveis", lembra Uehara, que destaca a importância de preparar os geriatras para lidar com idosos diversos. "O profissional tem que entender que existem diferenças. O mundo não é binário. Não é zero ou um, e sim ou não."
"Temos que discutir a questão de gênero, o velho não é um ser assexuado, e tem a questão de doenças sexualmente transmissíveis", lembra Uehara, que destaca a importância de preparar os geriatras para lidar com idosos diversos. "O profissional tem que entender que existem diferenças. O mundo não é binário. Não é zero ou um, e sim ou não."
O envelhecimento populacional
torna o debate da qualidade de vida na velhice urgente para a população
brasileira, e o médico chama a atenção que a transição do país para uma
sociedade com mais idosos depende de um planejamento público e individual.
"Se não nos programarmos e não fizermos uma transição demográfica em
melhores condições, isso vai impactar na saúde e até na Previdência. Envelhecer
é um planejamento."
Edição: Narjara
Carvalho
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