Na
publicidade brasileira, mais de 90% dos protagonistas ainda são brancos
Data:
30/03/2016
em: Comunicação
Sem
esteriótipos. Na
campanha do Dia dos Namorados de 2015, O Boticário fez retrato social
diferente
Estudo mostra que propaganda
reproduz velhos conceitos de gênero e raça no País
por
Fernando Scheller no Estadão
Um país com mais de 90% da
população composta por brancos, em que as mulheres se dedicam principalmente
aos cuidados com a casa e com a beleza. Este é o retrato do Brasil na
publicidade veiculada na televisão, de acordo com uma pesquisa feita pela
agência brasileira Heads, com o auxílio da ONU Mulheres. O objetivo da
iniciativa conjunta é combater estereótipos na propaganda e na mídia.
Para chegar à conclusão de que as
simplificações sociais continuam a dar o tom da publicidade no País, a Heads
monitorou, durante os dias 25 a 31 de janeiro, mais de 2,3 mil inserções de 30
segundos exibidas em intervalos comerciais de duas emissoras: a TV Globo e o
Megapix (canal de filmes incluído em pacotes básicos de empresas de televisão
por assinatura).
Trata-se da segunda pesquisa do
gênero capitaneada pela Heads em menos de um ano. A primeira edição, realizada
em meados de 2015, revelou que a situação era preocupante. De acordo com Carla
Alzamora, diretora de planejamento da Heads e uma das responsáveis pelo
levantamento, a situação piorou na rodada feita no início de 2016. Ficou claro:
quando chega o verão, os estereótipos – sobretudo os de gênero – ganham ainda
mais força.
A equipe da Heads apurou que 36%
dos comerciais exibidos apresentavam algum estereótipo de gênero – afetando
principalmente mulheres, mas também homens –, contra 28% da medição anterior.
“Isso fica claro especialmente no que se refere às atividades exercidas nos
comerciais”, explica Carla. O levantamento mostrou que 100% das propagandas de
calçados e de cuidados com o bebê reforçam ideias há muito estabelecidas sobre
a posição feminina na sociedade. O mesmo ocorre com segmentos como produtos de
beleza (em 77% dos casos) e itens de limpeza (em 82% das inserções).
Diante dos resultados do levantamento,
a Heads chegou à conclusão de que toda a discussão sobre “empoderamento”
feminino que tomou conta da mídia em 2015 teve efeito nulo sobre a publicidade.
Raça. Se
a questão do gênero é preocupante, os estereótipos raciais também estão
transparentes na pesquisa. “Existe uma clara noção no mercado que a família
negra só se comunica com negros, enquanto a branca pode falar para todos”, diz
a diretora de planejamento da Heads.
Entre os homens que protagonizam
comerciais de TV, 93% são brancos. No caso das mulheres, a esmagadora maioria
das protagonistas de propaganda é branca, enquanto uma pequena parcela dos
personagens se encaixa na categoria “diversa” (com pessoas de diferentes
origens raciais interagindo) e apenas 1% mostram só mulheres negras em primeiro
plano. Quando os protagonistas são crianças ou casais, a presença de negros e
pardos cresce, mas sem superar a marca de 24%.
Além dos padrões. A marca Dove, da Unilever, tem a tradição de
reunir mulheres de diferentes padrões de beleza e raças em suas peças
publicitárias.
A executiva da Heads afirma, no
entanto, que a natureza da atividade publicitária às vezes é um terreno fértil
para estereótipos e simplificações. “Afinal, é difícil contar uma história
completa em 30 segundos.” No entanto, ela destaca que existem comerciais que
ousam tentar mudar esse quadro – caso da campanha de O Boticário para o Dia dos
Namorados de 2015, que mostrou casais gays e personagens de diferentes raças.
O presidente da Associação
Brasileira de Agências de Propaganda (Abap), Orlando Marques, afirmou ao ‘Estado‘ que
a entidade não se debruçou sobre a questão da diversidade até o momento. Disse,
porém, que tem recebido solicitações para tocar o assunto – algo que a entidade
deve fazer em breve.
Leia a matéria completa em: Na publicidade brasileira, mais de 90% dos protagonistas ainda são brancos - Geledés http://www.geledes.org.br/na-publicidade-brasileira-mais-de-90-dos-protagonistas-ainda-sao-brancos/#ixzz47L8YOnyn
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