Comunidade
de ex-escravos resiste para sobreviver
Publicado
há 6 dias - em 11 de abril de 2016 » Atualizado às 10:33
Categoria » Afro-brasileiros e suas lutas · Patrimônio Cultural
Categoria » Afro-brasileiros e suas lutas · Patrimônio Cultural
O Cafundó, comunidade quilombola em Salto de
Pirapora, a 150km de Campinas, luta para preservar a cultura de seus
ancestrais, ex-escravos que fundaram o local em 1888 nas
terras doadas por um fazendeiro. Hoje são 24 famílias, pouco mais de 100
habitantes no local, que atende oficialmente pela denominação Associação
Remanescente de Quilombo Kimbundo do Cafundó, que se dividem em duas parentelas
— Almeida Caetano e Pires Pedroso, ambas descendentes das filhas do fundador do
agrupamento.
Por Sheila
Vieira Do Correio Popular
Embora seja uma comunidade
centenária, o CNPJ da associação, com sede na Rua Hum do
Canfundó, foi constituído somente em 2002. Atualmente a comunidade sobrevive da
agricultura com a participação de 11 famílias no cultivo de hortaliças em três
estufas. A produção é entregue ao programa de doação simultânea de alimentos da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com apoio técnico da Fundação do
Instituto de Terras de São Paulo (Itesp).
A intenção é ampliar os ganhos
com a colheita de cítricos esperada para maio do próximo ano. Além disso,
outras fontes de renda são o artesanato, com destaque para as bonecas de palha
de milho, e também o faturamento com a tradicional Festa de Maio, em devoção à
Santa Cruz, Nossa Senhora e São Benedito, padroeiros da comunidade.
As glebas herdadas pelos
descendentes de Ifigênia, filha de Joaquim Manoel de Oliveira Congo, o fundador
do Cafundó, não são o maior patrimônio do local. É a cupópia, língua de raiz
africana derivada do quimbundo (ou kimbundo), idioma falado principalmente em
Angola, o mais precioso tesouro cafundoense. A língua secreta era a arma dos
escravos para manter seus planos de fuga incompreensíveis aos ouvidos dos
capangas de fazendeiros escravocratas.
Fluente apenas em dois
descendentes de Ifigênia, seus netos Marcos Norberto de Almeida, 56 anos; e
Juvenil Rosa, 59 anos, a cupópia corre sério risco de desaparecer. O
desinteresse dos mais jovens com as tradições da comunidade é o principal fator
que eleva o risco de extinção do idioma, lamenta Almeida. Sua companheira,
Regina Aparecida Pereira, de 57 anos, uma das coordenadoras da comunidade,
lembra que o preconceito do povo da cidade em relação aos hábitos cafundoenses
sempre exerceu grande influência negativa entre os quilombolas mais novos. “As
crianças eram ridicularizadas na escola por sua língua própria e hábitos. Não
queriam mais aprender a cupópia”, conta.
Os vocábulos da cupópia ainda são
falados pelos quilombolas do povoado. Quem visita o Cafundó se
depara com pessoas que, em certas circunstâncias, usam sua língua secular,
principalmente diante de estranhos. Palavras como angura (bebida), orobongui
(dinheiro), variá (comida) e curima (trabalho) ainda são pronunciadas no
cotidiano da comunidade. “Todo morador entende o significado das palavras em
quimbundo”, diz Regina. Para ela, que é de Campinas e passou a conviver no
Cafundó nos últimos 13 anos, a língua que se fala no local é o quimbundo e não
a cupópia. Há uma confusão em relação ao nome da língua. Prova disso, reforça,
foi o reconhecimento da língua do Cafundó como Quimbundo, por uma angolana que
conheceu a comunidade em fevereiro deste ano.
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