Cela de
Marcelo Odebrecht
em
Curitiba vira academia e escritório
Maior
empreiteiro do país completa neste domingo 100 dias preso
Marcelo Odebrecht, presidente da construtora Odebrecht, chega ao IML de
Curitiba para realização de exame de corpo de delito. Ele está entre os presos
pela Polícia Federal na 14ª fase da Operação Lava Jato (Foto: Geraldo Bubniak
/Parceiro/Agência O Globo)
Marcelo Odebrecht transformou o exíguo espaço onde passa a maior
parte dos dias enclausurado em escritório e academia. Longe das raias de
sua piscina particular, faz exercícios físicos e anotações. O terno deu lugar
ao agasalho de academia. Faz "step" (subir e descer degraus) de
improviso na estrutura de concreto da cela, abdominais e flexões. Uma rotina
que começa cedo e segue tarde adentro. O terno, ele só voltou a usar quando foi
levado a depor CPI da Petrobras. Na ocasião, orientado por seu advogado, negou
"ter o que dedurar" para rechaçar a hipótese de aderir à delação premiada.
Odebrecht não para nem demonstra abatimento, e
anota: são orientações aos advogados, análises das peças dos processos da Lava
Jato, que ele lê e relê atentamente, indicações de argumentos, pontos a serem
questionados em juízo, táticas de publicidade e relação com a imprensa.
Acostumado a dar ordens, mantém dentro do cárcere a
figura do líder. Cinco executivos da Odebrecht, presos também no dia 19 de
junho, mantém a reverência hierarquia, mesmo afastados dos cargos e longe da
empresa. "Parece uma relação de seita", diz uma autoridade da equipe
da Lava Jato, em reservado.
Os 100 dias de cárcere de Odebrecht são
divididos em duas etapas. Nos 26 primeiros dias esteve preso na Custódia da
Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba - QG das investigações, sob a
guarda direta daqueles que o prenderam. O empresário dormiu na cama superior de
uma beliche, em uma cela sem janela, onde a luz que entra é a do vão das grades
da porta. Com ele, dois outros executivos.
Acostumado a eventos sociais, jantares
sofisticados, o dono da Odebrecht não reclamou da comida, em geral arroz,
feijão, macarrão e uma carne. Seu primeiro pedido chegou oficialmente, via
advogado, no mesmo dia que foi transferido para Curitiba: o direito ao consumo de barras de cereal de três em três
horas, por causa de uma hipoglicemia. Foi atendido.
Ao ser preso, Marcelo Odebrecht avisou aos
familiares que não queria receber visitas. A ordem deveria valer também para a
mulher dele, Isabela. Mas é ela, junto com a irmã do executivo, Mônica
Odebrecht quem mais o visitam na carceragem, sempre às sextas-feiras.
Odebrecht pediu pessoalmente aos agentes da
Custódia da PF iluminação dentro da cela (o que é proibido) e depois a
liberação para comprar duas TVs que seriam instaladas estrategicamente nos dois
corredores que dão acesso aos dois blocos de três celas. Ambos negados.
Banho quente
No dia 25 de julho, Odebrecht e os outros cinco
executivos da empreiteira foram transferidos para o Complexo Médico-Penal, em
Pinhais, região metropolitana de Curitiba, cidade de inverno intenso e
rigoroso. A unidade de prisão estadual, apesar de abrigar detentos condenados,
tem acomodações mais espaçosas e um de seus principais problemas, o banho
gelado, foi resolvido. Antes de ser liberado para cumprir pena em regime
domiciliar, no inicio do ano, um dos donos da construtora Mendes Júnior
conseguiu autorização para instalar um sistema de aquecimento para os banhos na
unidade.
Os 100 dias
de cárcere do maior empreiteiro do Brasil
O mais poderoso dos empreiteiros alvos da Operação
Lava Jato, Marcelo Bahia Odebrecht, completa hoje, 27, 100 dias encarcerado.
Nos meios jurídico, político e empresarial, a efeméride é considerada um marco,
por motivos distintos, e tem suscitados debates e batalhas nos tribunais. Eram
5h30 do dia 19 de junho de 2015 quando uma equipe da Polícia Federal comunicou
a prisão dele. Odebrecht, aos 46 anos, estava pronto para uma de suas rotinas
matinais: a natação na piscina de sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
Seu primeiro pedido aos policiais foi ter acesso ao
mandado expedido pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz os processos da
Lava Jato, em Curitiba, sede das investigações. Nas redes sociais,
imediatamente, uma bolsa de apostas informais começou a funcionar. A
unanimidade se formava no sentido de que o empresário não permaneceria preso
mais do que um fim de semana.
Seus defensores alegavam que a prisão era abusiva e
seria rapidamente revista. Os céticos iam em outra direção: por ser um homem
rico, ele sairia do cárcere porque a Justiça brasileira sempre fora conivente
com os poderosos.
A prisão de Odebrecht foi o maior desafio
enfrentado até aqui pela força-tarefa do Ministério Público Federal.
Chamado pelos demais empreiteiros do esquema de "príncipe", nem mesmo
os investigadores acreditavam que ele poderia ficar por longo período
encarcerado. Alvo central da 14.ª fase, batizada de Operação Erga Omnes -
"vale para todos", em latim -, colocar Odebrecht atrás das grades,
para a força-tarefa, era mais do que atingir o suposto líder do esquema de
cartel. Sua prisão teve papel simbólico. "A lei deve valer pra todos ou
não valer pra ninguém", disse o procurador da República Carlos Fernando de
Santos Lima, no dia da prisão.
Dono da nona maior fortuna do País, avaliada em R$
13 bilhões pela revista Forbes, o presidente do Grupo Odebrecht foi forjado
desde criança pelo avô Norberto Odebrecht e pelo pai Emílio Odebrecht para
assumir o comando do império familiar. No âmbito da operação, ele é acusado de
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa em contratos da
Petrobras. O empresário nega todas as acusações.
A expectativa da defesa era tirar o empresário do
cárcere em um mês. No entanto, antes de o primeiro pedido de habeas corpus ser
analisado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF), Moro decretou uma
nova prisão preventiva, no dia 24 de julho. O tribunal, então, julga o pedido
prejudicado. "No curso das investigações, surgiram elementos
supervenientes que reforçam a relação entre a Odebrecht e o pagamento de
propinas no exterior", afirmou Moro na ordem de prisão.
As
investigações encontraram cinco contas na Suíça que seriam da Odebrecht. Para
Moro, a prisão do executivo se faz necessária porque "a Odebrecht tem
condições de interferir de várias maneiras na colheita das provas, seja
pressionando testemunhas, seja buscando interferência política, observando que
os próprios crimes em apuração envolviam a cooptação de agentes públicos".
Defesa
Defesa
Para a defesa de Odebrecht, os 100 dias dele na
prisão são a marca indiscutível de uma "injusta antecipação de
punição", um abuso do juiz para mostrar ao país que os poderosos não estão
acima da lei. Segundo os advogados, não há elementos que justifiquem a
manutenção dele na prisão. Argumentam que o empreiteiro não foi citado pelos
delatores e a teoria do domínio do fato não pode ser aplicada para o presidente
de um conglomerado empresarial tão grande quanto o Grupo Odebrecht.
A expectativa da defesa é de que nesta semana
Odebrecht consiga um habeas corpus. A cerca de 20 dias de completar 47 anos,
Odebrecht na parece estar resignado. É o principal orientador da estratégia de
confrontar a validade das provas das investigações da Lava Jato, a competência
do juiz Sérgio Moro e sua suspeição para julgar o caso. Não pensa em assinar o
acordo de deleção premiada, dizem seus assessores.
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