Time
de haitianos refugiados luta para disputar campeonato carioca de futebol
- 01/09/2016
18h25
- Rio
de Janeiro
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Um
time de atletas refugiados tentará disputar o campeonato de futebol
profissional do Rio de Janeiro no próximo ano: é o Academia de Futebol Pérolas
Negras, formado, na maioria, por haitianos, que mantém um centro de treinamento
em Paty do Alferes, no interior do estado.
O
time é mantido por uma organização social brasileira que atua no Haiti, a Viva
Rio, e tem sede na capital do estado. Para competir, o time acabou de vencer o
primeiro desafio: equiparar legalmente os jogadores aos brasileiros. Antes,
eles eram considerados estrangeiros e não podiam montar um time pelas regras
locais.
“Trouxemos
[esse entendimento] para o futebol, que pela lei trabalhista, eles [refugiados]
podem trabalhar como se brasileiros fossem, de maneira a não serem
contabilizados nas vagas de estrangeiros”, explicou a advogada Luciana Lopes da
Costa. Ela atuou junto com a Justiça do Trabalho para mudar a compreensão da
Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), que só permitia a participação
de até quatro estrangeiros por time nos campeonatos.
Quando
chegam ao Brasil, Luciana lembra que os refugiados têm os mesmos direitos que
os brasileiros. Portanto, não havia impedimento legal, segundo ela, para que
atuassem de maneira profissional, competindo e recebendo salário. Porém, era
preciso difundir esse entendimento e regularizar a situação de todos os
atletas, muitos com visto de turista, no governo brasileiro.
A
advogada conta que se inspirou na política de integração do Comitê Olímpico
Internacional, que este ano, na Rio 2016, apresentou o primeiro time de atletas
que precisaram sair de seus países e vivem como refugiados
Patrocínio
Superado
o obstáculo, o Pérolas Negras busca agora patrocínio para pagar a inscrição nas
competições. Para disputar a terceira divisão, é preciso ter R$ 500 mil.
O
diretor-executivo da Viva Rio, César Fernandes, sabe que a quantia é alta para
a instituição, que mantém os projetos no Brasil e no Haiti e discute um
parcelamento da taxa com a federação. Mas também espera contar com ajuda para
os jogadores. “A gente quer patrocínio, um patrocínio em termos globais. Esse
tema do refugiado é importante em um país de imigrantes”, declarou. Ele não
acredita que o racismo possa atrapalhar os planos da instituição.
O diretor-executivo da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes
(D), assina termo de compromisso que permitirá a contratação de atletas
refugiados por clubes nacionais, observado pelo presidente da Ferj, Rubens
LopesTomaz Silva/Agência Brasil
A
federação de futebol carioca reconhece que o valor da inscrição é alto, mas
justifica que o objetivo é evitar a participação de times amadores, sem
estrutura para chegar até o fim das competições. “Financeiramente, não nos cabe
subsidiar nenhum projeto, não podemos”, disse o presidente da federação, Rubens
Lopes.
A
ideia de investir no futebol haitiano veio com as ações da Viva Rio na capital
do país, Porto Príncipe, a convite da Organização das Nações Unidas (ONU). “A
meio caminho, percebemos que o futebol é uma paixão profunda no Haiti”, contou
César Fernandes: “Fim de semana em Porto Príncipe, é difícil andar por causa do
tanta pelada”. Em 2008 a organização começou a trabalhar o esporte com os
jovens da capital e em 2011, montou um centro de treinamento profissional. “A
estrutura do futebol ainda é frágil no país. Eles ainda não conseguem
aproveitar todos os talentos, uma vez que há tanta paixão e tanta prática”,
disse Fernandes.
No
início, a ideia era trabalhar com times de futebol nos Estados Unidos, país
mais próximo do Haiti que do Brasil. Lá, onde o interesse pelo futebol cresce,
César Fernandes estima que vivem cerca de 500 mil haitianos – um público
potencial. Dificuldades na emissão de vistos, no entanto, fizeram com que a
Viva Rio voltasse seus esforços ao Brasil, onde instalou um centro de
treinamento, com alojamento, para atletas de alto nível, em Paty dos Alferes.
Com
o trabalho que começa no Sub-12, no Haiti, o Pérolas Negras estreou este ano na
Copa São Paulo de Juniores, para até jogadores até 20 anos. Apesar da
eliminação na primeira fase, o apoio do público foi marcante. “A recepção foi
de uma qualidade que parecia que o Barcelona tinha chegado na cidade”, lembrou
César Fernandes. “Os jogadores ficaram até famosos”, brincou.
No
Brasil há quatro anos, o jovem haitiano Fenelon Marckenson, de 18 anos, que
está de volta ao Pérolas Negras, sonha com a oportunidade em um grande time
carioca. Já passou pelo Audax e pelo Boa Vista, no Rio, antes de jogar na
copinha. “O futebol é o que tenho agora”, disse.
A advogada Luciana Lopes da Costa fala durante assinatura de termo de compromisso para facilitar a contratação de atletas refugiados por clubes nacionais, na Ferj Tomaz Silva/Agência Brasil
Edição: Jorge Wamburg
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